Olhando para a diversidade de temas dos artigos que têm sido publicados na nossa revista vemos que a nossa área de interesse investigação e acção se alargou a outras temáticas diferentes da que ocupava inicialmente muitos de nós e abrangendo também novas populações.
Particularmente significativa é a questão do consumo abusivo de álcool e do alcoolismo que passou a fazer parte da intervenção das Unidades de Tratamento e Comunidades Terapêuticas e que como consequência tem um lugar cada vez maior na nossa revista.
Um olhar novo sobre o consumo de álcool e a integração de consumidores problemáticos de álcool nas estruturas antes dedicadas às outras dependências foi também uma consequência da intervenção que foi possível realizar em Portugal e que despertou e continua a despertar o interesse de muitos países pela abrangência, originalidade e audácia do que tem sido chamado modelo português.
Nunca é demais frisar que o conjunto de ideias que inspiram este modelo são muito anteriores à aprovação da Estratégia Nacional, embora esta as tenha consagrado e permitido desenvolver e aprofundar a sua prática.
Este caminho, no entanto, não tem sido isento de dificuldades e, particularmente, no fim do ano de 2011 foi dada, pelo governo de então, uma forte machadada destrutiva no edifício institucional existente: a extinção do IDT e a criação do SICAD organismo sem responsabilidade sobre as estruturas de intervenção local que foram atribuídas às ARS.
Esta fragmentação institucional tem sido amplamente criticada, mas mais de dez anos depois e com várias reformas legislativas anunciadas e adiadas a situação permanece inalterada.
A urgência desta alteração é cada vez maior. A situação das dependências tem‑se alterado ao mesmo tempo que os serviços perdem capacidade de intervenção.
João Goulão refere no Expresso de 6 de Maio que, em 2021, o número de utentes que foram readmitidos nos serviços aumentou 12% e o número de novos utentes aumentou quase 25% e Emídio Abrantes, no mesmo jornal, compara o modelo português a um automóvel muito bonito mas sem bateria.
Será este governo capaz de finalmente alterar esta situação como está anunciado no Programa de Governo?